terça-feira, 31 de julho de 2012

Por que a vida é assim? Mauro Kwitko

      A sociedade humana, ainda está em um estágio inferior de desenvolvimento, sob a hegemonia dos nossos 3 chakras inferiores (visão terrena, sexualidade e Ego) e vive no mundo de Maya, a Ilusão, no qual praticamente todos nós mergulhamos, só percebendo a Verdade após o nosso desencarne, ao retornarmos para Casa, no Mundo Espiritual. Lá, vão desativando-se os nossos chakras inferiores e ativando-se os chakras superiores, e vamos, então, percebendo o nosso erro, o nosso engano, o nosso egoísmo, ficando a tentativa de correção para a próxima encarnação.
Aqui na Terra revelamos as nossas inferioridades e no Plano Astral as nossas superioridades. Nós reencarnamos, entre outras metas, para encontrarmos as nossas inferioridades, e a nossa Missão é aprendermos a revelar aqui as nossas superioridades, aproveitarmos melhor a nossa inteligência, o nosso tempo, a nossa disposição, não em prol de nós mesmos e dos nossos e, sim, visando o bem comum, a melhoria da sociedade humana, colaborando para que um dia o Reino dos Céus instale-se definitivamente aqui na Terra.
      Precisamos aprender a colocar o nosso Ego a serviço do nosso Eu Superior, mas para isso é necessário não dedicarmos o nosso tempo demais conosco mesmos, não desperdiçarmos os nossos dias e noites com atividades egocêntricas, em buscas infantis de auto-satisfação, de leviandade, de irresponsabilidade, numa atitude de desrespeito com o nosso Espírito.
A informação dos Seres Espirituais é de que, depois da morte do nosso corpo físico, a imensa maioria de nós retorna ao Plano Astral profundamente frustrados, arrependidos e envergonhados conosco mesmos, quanto ao real aproveitamento dessa atual passagem, uma parte sendo resgatados do Umbral e outra parte conseguindo lá chegar sem passar por essa zona, mas necessitando de atendimento em hospitais do Astral.
      As frases mais ouvidas nos nossos retornos, são as ditas por nós: “Ah, se eu soubesse…” e “Ah, se eu lembrasse…” e a que escutamos: “Não te preocupes, tu terás uma nova oportunidade.” Devemos recordar que já estamos na nova oportunidade… Podemos aprender a nos libertar do comando do nosso Ego, elevarmos a nossa freqüência vibratória e ultrapassarmos o estágio ainda infantil ou adolescente da maioria da humanidade, rumo a um estágio adulto, como alcançaram os Mestres.
      Podemos perceber o nosso grau de egoísmo, o quanto somos comandados pelo nosso Ego, contabilizando quantas vezes falamos, pensamos e agimos em prol de nós mesmos, dos nossos desejos, as nossas satisfações, o nosso prazer, o nosso lazer. Podemos perceber isso com mais clareza pelo número de vezes que pensamos e falamos iniciando por “eu”. Mas isso não significa apenas vaidade e orgulho, mas também o autocentramento da tristeza, da mágoa, do sentimento de rejeição, etc. O nosso Ego está no comando quando nos sentimos mais do que os outros, mas também quando nos sentimos menos, quando nos enaltecemos ou quando nos depreciamos, quando queremos brilhar ou quando queremos nos esconder, quando queremos vencer ou quando queremos perder, quando exaltamos os nossos feitos ou quando nos fixamos em nossas próprias dores e fracassos.
      Existem três tipos de pessoas:
      1. As que acreditam-se mais do que os demais, no sentido da sensação de superioridade ou no equívoco do sofrimento por si mesmos.
      2. As que sentem que são iguais aos demais e, embora ainda bastante autocentradas, já vivem comunitariamente, pensando muito em si mas também nos demais.
      3. As que descobriram que os outros são mais importantes do que elas. Essas são Mestres na arte de viver.

      Podemos perceber claramente em que tipo nos classificamos pela preocupação que norteia os nossos dias, pelo stress que sentimos na vida, pela sensação de tensão que nos aflige, pelas buscas de satisfação e alegria que nos chamam a atenção e pelo grau de sofrimento que sentimos. Sairmos do “eu” e vivermos para o “nós” é a grande lição que os Mestres nos ensinam. Poucos estão dispostos a aprendê-la e, menos ainda, a praticá-la em sua vida diária. Como sairmos do “eu” na prática? Uma das maneiras é percebermos como nosso Ego nos ilude, seduz e domina, por exemplo, nas polaridades:
      1. “Eu” sou muito bom nisso ou “eu” sou um fracasso…
      2. “Eu” quero alcançar o sucesso ou “eu” não consigo…
      3. “Eu” vivo para ajudar os outros ou Como “eu” sofro…
      4. “Eu” tenho um espírito de liderança ou “eu” preciso que me ajudem…
      5. “Eu” sinto muita pena das pessoas ou “eu” tenho pena de mim…
      6. A “minha” vida é ótima ou a “minha” vida é tão triste…
      7. “Eu” adoro me divertir ou “eu” sou muito depressivo(a)…
      8. “Eu” não tenho nada a ver com isso ou como “eu” fico indignado com as coisas…
      9. Nada “me” afeta ou Como “eu” me magôo…
      10. “Na vida é cada um por “si” ou Como “eu” me sinto rejeitado…

      A ilusão da separatividade que o nosso corpo físico nos traz é a causa e a origem do “eu”. Os discípulos e os futuros discípulos ainda acreditam ser uma individualidade e vivem para “si”, os Mestres já se libertaram dessa ilusão. Cuidemos quantas vezes pensamos ou falamos a palavra “eu” e saberemos em que grau estamos.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Saiba mais sobre o livro...



Alface, Tomate e uma Pitada de Pimenta... Um título super interessante que dá asas a nossa imaginação. 
Uma série de saborosos contos para todos os gostos: leves, poucas calorias, e não por isso menos apetitosos como alface. Outros densos, instigantes, cheios de questões inevitáveis do cotidiano. Inevitáveis como um bom molho de tomate numa macarronada. Todos com uma dose de pimenta. Uma dose medida com a maestria dos que sabem preparar uma boa e apetitosa leitura. É o que o nosso autor Natal Augusto Dornelles fala sobre o primeiro livro de ficcção escrito. Conhecido como o autor dos livros Como é Bom Ser Gremista e o coordenador do livro Mosqueteiros Tricolores, Natal resolveu sair um pouco de seu contexto com este livro de contos com histórias interessantíssimas, vale a pena conferir!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Falando um pouco do livro...



O Barco que não Queria Morrer, um nome forte de livro, logo se espera algo com aventuras e experiências em alto mar, e é exatamente isso que o nosso autor, Aderbal Torres de Amorim, relata em seus textos. Ele aborda sobre os perigos de se navegar de Laguna a Punta Del Este, narra a viagem com seu veleiro, chamado de Maragato, e não poderia ter um nome melhor para este, que acompanhou nosso autor em tantas aventuras.
No livro, Amorim descreve tragédias do Congerie, do navio Taquari e do Agamenom. Conta dos piratas que até hoje saqueiam embarcações e desvenda o mistério da Maré Vermelha. 
Narra o trsite episódio do furacão Catrina, e muitas outras aventuras. É daqueles livros gostosos de ler, que você só para quando acabar.
recomendado!




terça-feira, 17 de julho de 2012

Texto do autor.



Bom dia, amigos! Hoje é dia de texto do autor por aqui.
Nosso autor escolhido hoje foi o Flavio Siqueira, grande escritor, autor do livro Dez Histórias e Algo Mais, pela BesouroBox.

O texto foi retirado do blog dele: http://flaviosiqueira.com/

Os Cenários vão Mudar
Um dia os cenários vão mudar. As importâncias se tornarão desimportantes e as prioridades se desvanecerão sem que você perceba. Um dia crescemos, amanhã mudamos , e logo vamos embora. Há encontros, reencontros, despedidas. Dias bons onde tudo parece se encaixar, dias estranhos, instáveis, longos demais. Sol e calor, chuva e umidade, amizades que esfriam, relacionamentos terminam, promessas eternas dissolvidas inexplicávelmente. Ganhos encobertos pelas perdas, perdas relativizadas pela experiência, experiência da dor que fortalece, da força que se encontra na fraqueza, na fraqueza que me mostra quem sou. Quem é? Não importa onde estamos hoje, amanhã tudo será diferente e o que vai determinar se é para ou bem o para o mal é apenas o teu olhar. Esse é teu privilégio. A vida não é fixa, renovar-se é essencial. De estações em estações, temos todos os dias a chance de nos construirmos, moldarmos, crescermos, dilatarmos nossa consciência e nos transformarmos como a vida, enxergando em cada movimento um novo degrau, uma grande oportunidade. No fim das contas isso é tudo o que importa.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Um pouco de Alice.




           Um pedaço do livro Alice para Sempre para vocês:

           Alice ouviu alguns passarinhos, manhãzinha recente, gorjeios e cantares diversos, e daí abriu a janela, viu cores e borboletas, abelhas, besouros e isabelinhas. As nuvens raras acolchoavam ou algodoavam o azul. Crescer e pensar por si mesma. Uma catarata de perguntas:
            – De que são feitos os dias? Por que é que estou aqui?
            Aspirou o ar de árvores molhadas, flores se abrindo e passarinhos movidos a sol, e não pensou em nenhum desafio importante, barcos a vela, emas e tamanduás-bandeiras corriam como balões e balõezinhos o campo azul, desejou as coisas mais, mais que já ouvira falar. Mas por que perguntou? O sol ia ajeitando as cores do dia, os sons do dia, os lugares para as coisas do dia:
            – Aquele algo sempre demais, demais que vem nos milagres.
            Trouxe com os olhos o azul para o espelho, se penteou, molhou a ponta dos lábios e saiu para o colégio.
As casas e os prédios estavam ali, as ruas estavam ali, as árvores em fila indiana, os carros chispando. As pessoas iam e vinham carregando o tempo debaixo do braço. As gameleiras-brancas trocavam perguntas e respostas e opiniões e bocejos. Vento fugindo do vento, vento fugindo do mar azul do céu, mais fugindo e barcos a vela voando.
Essa menina nunca parou para pensar. Ouviu falar que no princípio tudo e nada fora a mesma coisa, se perguntou:
            – Como pôde esse tudo sair do nada?
            E o caos entregue a Deus, que pode tudo, que deu um jeito, arco-íris como resumo do dia. Pelo interior dela, Alice, infinitos desejos, palpitações, tonteiras, galhos, queimações, explosões, trevas, luas.
            – Mas o que é que eu posso e não posso fazer? Vamos, alguém me diga, quero saber.
            Mirou-se no espelho de corpo inteiro, frente e verso e perfil, horas e horas ali, o batom vermelho beijou a lâmina de vidro, os peitinhos empinados e a barriguinha para dentro e a bundinha para cima, os olhos suplicantes de cachorrinha lavada. Olhos de água doce e cristalina, olhos que pareciam sempre voltar de país distante, um lugar que somente ela conhecia, somente ela conseguia e somente ela desconhecia. Alice do espelho era a verdadeira, imagem não mente. Ficou quieta e, talvez, o mundo também tenha aquietado-se.
            Em tempos passados e antigos, a menina era excelente aluna, obediente, naturalmente tinha um olhar doce e cristalino, e um sorriso e um riso de canarinha-da-terra. Carismática, ia direto para a escola e da escola para casa, não dormia sobre o caderno de deveres. Era mais suave que um bichinho de estimação, mais clarinha que um poema surrealista, mais doce que um filhote de corruíra, mais limpa que água nascida da pedra.
            Hoje já havia mudado, hoje sonhava, olhava os meninos bonitos ou se fingia, se achava. Assistiu Peri e Ceci, se viu sentada na imagem da canoa descendo o rio, ouvindo os sons do mato, Peri remava, Peri forte pra burro, Peri buscava frutos e pescava e caçava. Peri gostava de Alice. Dormiram no mesmo galho, se beijaram procurando estrelas no céu da boca. Peri cheirava à flor de chá. Alice encantada, o corpo de Peri ali, sonhado, e o buriti acordou carregado de almas-de-gato e araras-vermelhas-grandes e bem-te-vis-do-bico-largo.
Alice procurava tanta coisa, e via tanta coisa à sua frente. Alice desejava tanta coisa, e não entendia nada. Tinha necessidade de procurar, de se exibir para o mundo, de se expandir. Tudo seria novidade, tudo novidade, novidade. A novidade a deixava fora de si e não a deixava pensar. Tudo de bom em qualquer lugar. Era agora ou nunca: ela estava acordando para sair. Entrar pelos caminhos sem poder parar. Ventos salgados, ventos doces, ventos frios, ventos cheios, ventos amarelos, quatro ventos.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Projeto Rondon...

     

      Hoje, fazem 45 anos que o Projeto Rondon foi criado, durante a ditadura militar, o Projeto tinha como objetivo promover o contato de estudantes universitários voluntários com o interior do país, através da realização de atividades assistenciais em comunidades carentes e isoladas.
Entre 1967 e 1989, quando foi extinto, o projeto envolveu mais de 350 mil estudantes e professores de todas as regiões do País.
      A ideia surgiu em 1966, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, durante a realização de um trabalho de sociologia intitulado "O Militar e a Sociedade Brasileira". A primeira operação do Projeto Rondon, denominada "Operação Zero", teve início em 11 de julho de 1967, quando trinta estudantes e dois professores partiram do Rio de Janeiro para Rondônia, a bordo de uma aeronave C-47, cedida pelo antigo Ministério do Interior. A equipe permaneceu na área por 28 dias, realizando trabalhos de levantamento, pesquisa e assistência médica.
       No ano seguinte, o projeto contou com a participação de 648 estudantes e foi expandido para outras áreas. Em 1970 o Projeto Rondon foi organizado como órgão autônomo da administração direta e, em 1975, transformado em Fundação Projeto Rondon. As atividades, inicialmente desenvolvidas apenas durante férias escolares, evoluíram com a criação do campus avançado, dos centros de atuação permanentes e de operações regionais e especiais.
      O Projeto Rondon foi retomado mais de quinze anos depois de sua extinção pelo governo federal e a pedido da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Tabatinga (AM), a 19 de janeiro de 2005.
       Até hoje o Projeto Rondon é realizado pelo país, em parceria com diversos Ministérios e tem o apoio das Forças Armadas, que proporcionam o suporte logístico e a segurança necessários às operações. Conta, ainda, com a colaboração dos Governos Estaduais, das Prefeituras Municipais e de empresas socialmente responsáveis.
       As ações do projeto são orientadas pelo Comitê de Orientação e Supervisão do Projeto Rondon, criado por Decreto Presidencial de 14 de janeiro de 2005. O COS, como é conhecido, é constituído por representantes dos Ministérios da Defesa, que o preside, do Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Esporte, Integração Nacional, Meio Ambiente, Saúde e da Secretaria-Geral da Presidência da República. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

 

Conte Comigo (Allan Kardec)

Conte comigo, mesmo sem contar a mim tanta coisa que lhe pesa no coração, que lhe amargura e resseca o fundo d'alma.
Conte, nas horas mais abandonadas da vida, quando o olhar, vagando em derredor, só divisar deserto.
Conte comigo, mesmo sem vontade de contar com ninguém ou certo de que não vale a pena contar com mais ninguém, nesta vida.
Conte comigo, devagarinho, deixando que a boa vontade vá dizendo, sem nada forçar, à medida em que acreditar.
Conte, durante as agonias, que, de um tempo para cá, não deixam em paz seu cansado coração, pois o bom da vida consiste em encontrar um amigo.
Conte, nas horas inesperadas, quando as tempestades despregam repentinas e tombam por cima da sua cabeça triste.
Conte comigo, para re-aprender a cantar, durante a vida, e a viver de serenas e pequeninas felicidades.
Conte comigo, para eu ajudá-lo a ter rosto bom e quieto, ao menos na presença dos filhinhos menores, que vivem dos rostos abertos.
Conte, para auxiliá-lo no amargo carregamento da cruz.
Conte comigo, para ficar sabendo, de experiência, que há na vida muita coisa linda, coisa escondida, prêmio de quem se venceu na dor.
Conte, para triunfar, no ritmo vagaroso do dever, na cadência da paz diária, aprendendo a teimar com as teimas da vida madrasta.
Conte, que são largos os caminhos da vida, esperando os passos duplos de dois amigos que vão, na direção da conversa.
Conte comigo, para saber olhar ao alto, buscando a face de um Pai.
Conte, mesmo para não se entregar aos desânimos e desencantos, de quem anda cheia da vida, do começo ao fim.
Conte comigo, que venceremos juntos, anjo da guarda com seu pupilo.
Conte, que a vida tem ser bela, criando nós as belezas, de dentro para fora, obrigação do coração, missão da Fé.
Conte comigo, conte sempre, teimando com você mesmo, que não quer saber de mais nada, ofendido que foi, descrente que anda.
Conte quando, olhando para a frente, não sente vontade de andar; olhando para trás, tem medo do caminho que andou.
Conte comigo, para que tenha valor e beleza cada passo seu, cada dia da vida, cada hora dentro de cada dia.
Conte, conte mesmo, sabendo que Deus me deu a missão de fazer companhia aos desacompanhados corações dos homens.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Coração Delator

Deixo para vocês, um conto do livro de Edgar Allan Poe, 
O CORAÇÃO DELATOR:


       Verdade! Nervoso – muito – muito, terrivelmente nervoso eu fui e sou; mas por que você diria que estou louco? A doença havia aguçado meus sentidos – não os destruído, não os embotado. Acima de tudo, tornara sensível o sentido da audição. Eu ouvia todas as coisas no céu e na terra. Ouvia muitas coisas no inferno. Como, então, estou louco? Ouça! E observe com quanta lucidez – com quanta calma posso contar-lhe a história inteira.
       É impossível dizer como a ideia entrou em meu cérebro pela primeira vez; mas uma vez concebida, ela me assombrava dia e noite. Propósito não havia nenhum. Paixão não havia nenhuma. Eu amava o velho. Ele nunca havia me enganado. Ele nunca havia me afrontado. Por seu ouro eu não tinha desejo algum. Acho que era seu olho! Sim, era isto! Ele tinha o olho de um abutre – um olho azul pálido, com uma membrana sobre ele. Sempre que ele caía sobre mim, meu sangue esfriava; e assim, passo a passo – muito gradualmente – eu tomei a decisão de tirar a vida do velho e assim me livrar do olho para sempre.
       Agora, esta é a questão. Você me imagina louco. Loucos não sabem de nada. Mas você deveria ter-me visto. Você deveria ter visto quão sabiamente – com que cuidado – com que previdência – com que dissimulação pus-me a trabalhar! Eu nunca fora tão gentil com o ­velho como na semana inteira antes de matá-lo. E todas as noites, em torno da meia-noite, eu virava o trinco da sua porta e a abria – oh, tão suavemente! E então, quando ­havia feito uma abertura suficiente para minha cabeça, passava para dentro uma lanterna furta-fogo, toda fechada, fecha­da de maneira que nenhuma luz brilhasse para fora, e então enfiava a cabeça. Oh, você teria rido ao ver quão sagazmente eu a enfiava! Eu a movia lentamente – muito, muito lentamente – de maneira a não incomodar o sono do velho. Eu levava uma hora para colocar minha cabeça inteira tão para dentro da abertura, que podia vê-lo deitado em sua cama. Ah! E um louco teria sido tão esperto assim. E, então, quando minha cabeça estava bem dentro do quarto, eu abria a lanterna de maneira cuidadosa – oh, de maneira tão cuidadosa – tão cuidadosa (pois as dobradiças rangiam) – eu a abria só o suficiente para que um único raio tênue de luz caísse sobre o olho de abutre. E isto eu fiz por sete longas noites – todas as noites, bem à meia-noite – mas sempre encontrei o olho fechado; e assim fora impossível fazer o trabalho, pois não era o velho que me perturbava, mas seu Olho Maligno. E todas as manhãs, quando o dia raiava, eu entrava audaciosamente no aposento e falava de modo corajoso, chamando-o pelo nome com um tom entusiasmado, e perguntando como ele havia passado a noite. Então, veja você que ele seria um velho muito perspicaz, realmente, para suspeitar que todas as noites, bem à meia-noite, eu o observava enquanto dormia.
       Na oitava noite, fui mais cuidadoso que de costume ao abrir a porta. O ponteiro dos minutos de um relógio movia-se mais rápido que minha mão. Nunca antes daquela noite eu sentira a extensão de meus poderes – de minha sagacidade. Eu mal continha meus sentimentos de triunfo. Pensar que lá estava eu, abrindo a porta, pouco a pouco, e ele nem a sonhar a respeito de meus atos ou pensamentos secretos. Eu cheguei a rir da ideia; e talvez ele tenha me ouvido, pois se mexeu na cama de súbito, como se sobressaltado. Agora você poderia pensar que recuei – mas não. Seu quarto estava preto como piche com a densa escuridão (pois as venezianas estavam bem fechadas devido ao medo de ladrões), de maneira que eu sabia que ele não veria a porta abrindo-se, e eu continuei a empurrá-la devagar, devagar.
       Eu tinha minha cabeça dentro, e estava prestes a abrir a lanterna, quando meu dedão escorregou sobre o ferrolho de estanho e o velho levantou-se de um salto, gritando:
– Quem está aí?
       Eu me mantive imóvel e não disse nada. Por uma hora inteira não movi um músculo, e, nesse ínterim, não o ouvi deitar-se. Ele ainda estava acordado sobre a cama, escutando; como eu havia feito, noite após noite, ouvindo os besouros agourentos na parede.
Em seguida, ouvi um ligeiro gemido, e eu sabia que era o gemido do terror mortal. Não era um gemido de dor ou pesar – oh, não! – era o som baixo e abafado que ­emana do fundo da alma quando sobrecarregada de espanto. Eu conhecia bem o som. Muitas noites, bem à meia-noite, quando o mundo todo dormia, ele emanava de meu próprio peito, intensificando, com seu eco pavoroso, os terrores que me perturbavam. Eu digo que o conhecia bem. Eu sabia o que o velho sentia, e sentia pena dele, apesar de rir à socapa em meu coração. Eu sabia que ele estivera deitado, acordado desde o primeiro ligeiro ruído, quando ele havia se virado na cama. Seus temores haviam crescido desde então. Ele estivera tentando acreditá-los infundados, mas não conseguia. Ele estivera dizendo para si mesmo: – “Não é nada, só o vento na chaminé – é só um camundongo atravessando o assoalho”, ou “É somente um grilo que deu um único cricri”. Sim, ele estivera tentando confortar-se com estas suposições: mas ele as considerara todas em vão. Todas em vão; pois a Morte, ao aproximar-se, havia assomado diante dele com sua sombra negra, e envolvido sua vítima. E foi a influência lúgubre da sombra despercebida que o fez sentir – embora não visse ou ouvisse – a presença de minha cabeça dentro do quarto.
       Quando eu havia esperado um longo tempo, com muita paciência, sem ouvi-lo deitar-se, decidi abrir uma pequena fresta, muito, muito pequena, na lanterna. Então a abri – você não imagina quão furtivamente – furtivamente – até que, por fim, um simples raio indistinto, como o fio da aranha, disparou pela fresta e caiu em cheio sobre o olho de abutre.
Ele estava aberto – bem, bem aberto – e fiquei furioso quando olhei fixamente para ele. Eu o vi com perfeita nitidez – todo de um azul sem brilho, com uma membrana hedionda sobre ele, que enregelava o próprio tutano em meus ossos; mas eu não conseguia ver mais nada do ­rosto do velho ou sua pessoa, pois havia direcionado o raio como se por instinto, precisamente sobre o maldito ponto.
       E não lhe contei que aquilo que você confunde com loucura é apenas uma hipersensibilidade do sentido? Então, como eu dizia, chegou aos meus ouvidos um ruído baixo, indistinto e rápido, como o de um relógio quando envolvido em algodão. Eu conhecia bem aquele som, também. Era a batida do coração do velho. Ela aumentou a minha fúria, como a batida de um tambor estimula o soldado a ser corajoso.
       Mas mesmo assim me refreei e permaneci imóvel. Eu mal respirava. Segurei a lanterna sem movimentá-la. Tentei ver quão firmemente eu conseguia manter o raio sobre o olho. Neste ínterim, o tamborilar diabólico do coração aumentou. Tornava-se mais e mais rápido, mais e mais alto, a cada instante. O terror do velho devia ser extremo! Ele batia mais alto, veja bem, mais alto a cada momento que passava! Tenho sua atenção? Já lhe contei que sou nervoso: de fato sou. E agora, a altas horas da noite, em meio ao silêncio pavoroso daquela casa velha, um ruído tão estranho como este me perturbou ao ponto de um terror incontrolável. No entanto, por alguns minutos mais, me refreei e permaneci imóvel. Mas a batida ficou cada vez mais alta, mais alta! Achei que o coração estouraria! A hora do velho havia chegado! Com um brado, escancarei a lanterna e saltei para dentro do quarto. Ele deu um grito estridente – um somente. Em seguida, o arrastei para o chão e puxei a cama pesada sobre ele. Então, sorri alegremente ao perceber a proeza tão adiantada. Mas, por muitos minutos, o coração seguiu batendo com um ruído amortecido. Isto, entretanto, não me exasperou; ele não seria ouvido através da parede. Por fim, ele cessou. O velho estava morto. Removi a cama e examinei o corpo. Sim, ele estava morto, de todo morto. Coloquei minha mão sobre o coração e a mantive ali por muitos minutos. Não havia pulso. Ele estava de todo morto. Seu olho não me incomodaria mais.
Se você ainda acha que sou louco, você não achará mais isto quando eu descrever as precauções inteligentes que tomei para ocultar o corpo. A noite se aproximava do fim, e trabalhei apressadamente, mas em silêncio. Em primeiro lugar, desmembrei o corpo. Cortei a cabeça, os braços e as pernas.
       Então removi três tábuas do assoalho do aposento e depositei tudo entre os caibros. Em seguida recoloquei as madeiras de maneira tão inteligente, tão astuciosa, que nenhum olho humano, nem mesmo o dele, poderia ter detectado algo fora do lugar. Não havia nada a ser ­lavado – nenhuma mancha de tipo algum – nenhuma marca de sangue de forma alguma. Eu havia sido ­extremamente cauteloso neste sentido. Uma banheira havia tomado conta de tudo – há, há!
Eram quatro horas quando eu havia terminado esta lida – ainda escuro como a meia-noite. Quando o sino soou a hora, houve uma batida na porta da rua. Desci para abri-la com um coração leve – pois o que eu tinha a temer? Entraram três homens que se apresentaram, com perfeita urbanidade, como oficiais de polícia. Um grito estridente havia sido ouvido por um vizinho durante a noite; a suspeita de um crime havia sido suscitada; a informação havia sido dada na delegacia de polícia, e eles (os policiais) haviam sido incumbidos de fazer uma busca no local.
       Eu sorri – pois o que eu tinha a temer? Dei as boas vindas aos cavalheiros. O grito estridente, eu disse, fora meu próprio grito em um sonho. O velho, mencionei, estava ausente, no campo. Levei meus visitantes por toda a casa. Convidei-os a procurarem – procurarem bem. Levei-os, por fim, ao aposento dele. Mostrei-lhes seus tesouros, seguro, imperturbável.
        No entusiasmo de minha confiança, trouxe cadeiras para o quarto e pedi que descansassem de seus labores, enquanto eu mesmo, na audácia arrebatada de meu triunfo perfeito, coloquei minha própria cadeira sobre o local preciso em que repousava o corpo da vítima.
       Os policiais estavam satisfeitos. Minha conduta os havia convencido. Eu estava peculiarmente à vontade. Eles se sentaram e, enquanto eu respondia alegremente, eles conversavam sobre assuntos familiares. Mas não demorou muito para sentir que empalidecia e desejar que deixassem a casa. Minha cabeça doía e imaginei ter ouvido um tinido em meus ouvidos; entretanto, eles seguiram ali, conversando. O tinido tornou-se mais distinto – ele continuou e tornou-se mais distinto. Eu falava de modo mais solto para me livrar do sentimento, mas ele continuava e ganhou em definição – até que, por fim, percebi que o ruído não vinha de dentro dos meus ouvidos.
       Sem dúvida que neste momento fiquei muito páli­do; mas eu falava com mais fluência e com a voz mais alta. No entanto, o som aumentou – e o que eu poderia fazer? Era um som baixo, indistinto, rápido – muito parecido com o som que um relógio faz quando envolvido em algodão. Eu arfava por ar – e, no entanto, os policiais não ouviam nada. Eu falava com mais rapidez – com mais veemência, mas o ruído aumentava de maneira constante. Eu me levantei e discuti a respeito de insignificâncias em um tom alto e com gestos violentos; mas o ruído aumentava de maneira constante. Por que eles não iam ­embora? Eu caminhava de um lado para o outro, no quarto, com passadas pesadas, como se exaltado até a fúria pelas obser­vações dos homens – mas o ruído aumentava de maneira constante. Oh, Deus! O que eu poderia fazer? Eu ­espumava – eu vociferava – eu praguejava! Brandi a cadeira sobre a qual eu estivera sentado e a arrastei sobre as tábuas, mas o ruído sobrepôs-se a tudo e continuou aumentando. Ele ficou mais alto – mais alto – mais alto! E, ainda assim, os homens conversavam agradavelmente e sorriam. Seria possível que eles não estavam ouvindo? Deus Todo-Poderoso! Não, não! Eles ouviam! Eles suspeitavam! Eles sabiam! Eles estavam fazendo troça do meu horror! Nisto eu acreditava e nisto acredito. Mas qualquer coisa era melhor do que esta agonia! Qualquer coisa era mais tolerável do que este escárnio! Eu não podia mais suportar aqueles sorrisos hipócritas! Eu sentia que precisava gritar ou morrer! E agora – novamente! Ouçam! Mais alto! Mais alto! Mais alto! Mais alto!
       – Canalhas! – gritei. – Não dissimulem mais! Eu admito o ato! Arranquem as tábuas! Aqui, aqui!        É o ba­ti­men­to de seu coração hediondo!


Edgar Allan Poe, chegou!

Depois de tantos meses de espera, nosso livro do grande mestre do terror está em mãos!
Você pode ter o seu pelo nosso site: www.besourobox.com.br ou nas livrarias de Porto Alegre e em todas as regiões do Brasil.
Uma grande obra de arte, com os contos mais tenebrosos e horripilantes de Poe, junto com figuras assustadoras no meio do livro, e sem falar da capa que está um verdadeiro espetáculo!
Uma verdadeira obra de arte, vale a pena conferir!